sexta-feira, 7 de março de 2014

 
 
Evangelhos Perdidos

Bart D. Ehrman – Título original: Lost Chirstianities

Tradução: Eliziane Andrade Paiva – 3ª.Edição – Editora Record


 
RESENHA

Bart D. Ehrman Chefia o Departamento de Estudos Religiosos da Universidade da Carolina do Norte, em Chapel Hill, EUA. Uma autoridade nos estudos da Igreja primitiva e da vida de Jesus, é presença constante em programas de rádio e televisão. É autor de diversos livros relativos ao assunto Jesus Histórico.




 

Neste livro, dividido em três partes e doze capítulos, Ehrman mostra a diversidade de Cristianismos que existiam nos primeiros séculos da Era Comum, e se atem particularmente às obras que não chegaram até nós, por terem sido banidas do cânon sagrado que compôs a Nova Aliança que temos disponível nos dias atuais. Ele analisa diversos textos apócrifos descobertos a partir do século XVII e principalmente no século XX, com os manuscritos do Mar Morto e a biblioteca de Nag Hammadi. Se hoje já é difícil falar em Cristianismo, dada a enormidade de variantes existentes, para os mais diversos gostos (Presbiterianos, Manipuladores de Serpentes nos Apalaches, Sacerdotes Gregos Ortodoxos, Pentecostais, Evangélicos e muitos outros), nos primeiros anos do Cristianismo, a quantidade de visões em relação ao ensinamento de Jesus e dos apóstolos era significativamente maior, cada uma delas se declarando as portadoras da verdadeira fé e donas da correta interpretação destes ensinos, declarando todas as outras como doutrinas falsas e em muitos casos, vinculadas ao demônio. Havia cristãos que acreditavam em um Deus. Havia aqueles que acreditavam em dois, outros em trinta e outros que diziam ser 365. Havia cristãos que acreditavam que a Terra era criação do Deus verdadeiro, outros que era criação de um Deus menor e outros que a Terra era um erro cósmico criado por uma divindade má como um lugar de prisão. Havia aqueles que consideravam os escritos do Antigo Testamento como válidos. Havia aqueles que rejeitavam tudo o que vinha da religião judaica e outros que permaneciam seguindo aquela tradição religiosa. Uns, criam na divindade plena de Jesus, outros que Jesus foi um ser humano como todos nós. E ainda outros que acreditavam que Jesus era as duas coisas, ao mesmo tempo ou em partes distintas da sua vida. Também havia contrassenso a respeito da morte de Jesus, tento cristãos que acreditavam que através dela veio a salvação da humanidade, outros que não acreditavam em tal hipótese, e outros mais que nem acreditavam que Jesus havia sido crucificado. Todas essas questões eram um prato cheio para a existência de centenas de formas de Cristianismo, dado que não havia consenso geral de como era a fé Católica (fé geral), que surgiu somente séculos mais tarde. E cada uma dessas visões de fé produziu seus textos, suas escrituras, nas quais acreditavam piamente. Houve naqueles primórdios do Cristianismo a produção de inúmeros Evangelhos, Epístolas, Atos e Apocalipses, todos eles atribuídos aos apóstolos de Jesus e para cada um dos grupos distintos, seus textos tinham o status de escritura sagrada, enquanto o dos outros eram considerados textos heréticos, crenças falsas.

 

O método de escrita da obra foi estruturado de maneira a abordar, na primeira parte, as “Falsificações e descobertas”, onde se analisa os textos descobertos recentemente e o conteúdo destes, para tentar entender o que pregavam e no que acreditavam as seitas do Cristianismo que, no decorrer da história, foram desaparecendo. Depois, na segunda parte, o enfoque é sobre “Heresias e ortodoxias”, onde são apresentados os tipos principais de crenças existentes e o combate perpetrado pelos proto-ortodoxos à essas crenças consideradas heréticas. Por último, na terceira parte, são vistos os “Vencedores e perdedores”, o trabalho exercido pela proto-ortodoxia para eliminar as “falsas crenças”, a assimilação por parte destes de muitas das crenças heréticas como forma de criar um entendimento comum, a produção do cânon de escrituras autorizadas e por fim, uma analise do que poderia ter acontecido caso outro grupo de Cristãos tivesse vencido as disputas para o título de fé verdadeira.

 

Iniciando a primeira parte do livro, Ehrman mostra que todas as escrituras perdidas tratavam-se de falsificações, ou seja, que não foram escritas por aqueles que se diziam ser os autores de tais documentos. De fato, a grande maioria dos documentos canônicos também se tratam de falsificações, livros escritos em nome de apóstolos que não escreveram uma linha sequer, em qualquer documento, sendo uma das poucas, senão a única exceção, as epístolas de Paulo de Tarso (e mesmo assim nem todas as que lhe atribuem), sendo que até mesmo nas reconhece de sua autoria há indícios de falsificações de trechos. Ehrman mostra também que falsificações não são raras mesmo em dias atuais, citando alguns exemplos dessa "arte", que muitas vezes engana por muito tempo comunidades inteiras.

 

No primeiro capítulo, Ehrman aborda um documento falsificado que era utilizado por muitas comunidades cristãs nos séculos II e III - O Evangelho de Pedro, um documento que carregava elementos doutrinários Docéticos e Adocionistas Os Docéticos eram um grupo de Cristãos que acreditavam que Jesus nunca possuiu um corpo de carne, que era completamente divino, e sua presença junto aos seus discípulos se dava só em aparência. Já os Adocionistas criam em Jesus como ser humano normal, mas que foi adotado por Deus no momento de seu batismo, cumpriu sua missão e abandonou o corpo de Jesus antes de sua morte. Fala-se da descoberta recente de um trecho desde manuscrito, que contém um relato do julgamento, da crucificação e da ressurreição de Jesus, e de muitos outros trechos deste mesmo Evangelho (não descobertos),que foram comentados por Serapião, bispo de Antioquia, que inicialmente não viu problemas com a adoção deste evangelho por muitas igrejas, mas após uma avaliação mais cuidadosa proibiu seu uso por conta destas teologias 'heréticas". Baseando no trecho de manuscrito descoberto e nos comentários de Serapião, Ehrman faz uma análise deste Evangelho, mostrando a popularidade que ele tinha. Além deste, também é abordado o Apocalipse de Pedro e outros documentos, até mesmo um chamado Atos de Pilatos, que narra o julgamento de Jesus de maneira muito mais completa, mostrando a culpa dos judeus e a superioridade de Jesus sobre tudo o que é pagão.

 

O segundo capítulo continua abordando o tema falsificações, mostrando esta prática sendo usada para produção de vários textos. Os Atos de Paulo e Tecla, suposta ajudante de Paulo em suas viagens missionárias, um texto com viés de romance, que também atraia muitos cristãos, sendo Tecla considerada muito popular até o século V. Este e outros "Atos" utilizaram deste estilo literário. Trata também do tema "mulheres na igreja" e das inconsistências da visão proto-ortodoxa, onde se mostra trechos de cartas de Paulo orientando que estas permanecessem caladas nas igrejas, e no mesmo texto (1Coríntios), capítulos antes, o mesmo apóstolo defendendo a participação das mulheres na igreja, concluindo que o texto original da carta foi falsificado posteriormente por motivação doutrinária (para defender uma posição contrária à participação feminina nas comunidades). Aborda-se também outros Atos Apócrifos, como os Atos de Tomé, que seria irmão gêmeo de Jesus (?!?!?!), os Atos de João e os problemas que estes textos geravam para os proto-ortodoxos, por conseguirem atrair a atenção de muitas comunidades.

 

No terceiro capítulo, discute-se as várias descobertas recentes de manuscritos que mudaram sobremaneira a visão que se tinha do Cristianismo primitivo, manuscritos estes que permitiram o entendimento aprofundado de visões e interpretações das escrituras que geraram seitas que se perderam no tempo, como é o caso dos Gnósticos. Estuda-se a fundo um dos documentos mais importantes recém-descobertos, o Evangelho Copta de Tomé, onde se pode encontrar a síntese do pensamento gnóstico. Ehrman mostra a história por trás das descobertas recentes destes manuscritos que mostraram ao mundo aquilo que a corrente de fé vencedora não divulgou (justamente por ter sido a vencedora e consequentemente, por considerar todas as outras heréticas).

 

O capítulo seguinte inicia-se com a demonstração de que a prática da falsificação de textos é comum mesmo nos dias atuais, com exemplos de falsificações famosas, como "O diário de Hitler", e voltando-se ao tema do livro, o surgimento de Evangelhos estranhos, que tratam de porções da vida de Jesus desconhecidas (infância, adolescência), viagens de Jesus à Índia, dentre outras coisas inusitadas. Verifica-se que, apesar da maioria das falsificações serem grosseiras e de fácil identificação, outras são muito elaboradas e muitas delas passam por originais e muitas destas são, até hoje, objeto de muita discussão entre estudiosos sérios a respeito da originalidade/falsificação É demonstrada também a questão de uma das falsificações recentes, feita por um estudioso de história do Cristianismo chamado Morton Smith em cima do texto do Evangelho Secreto de Marcos, texto utilizado por gnósticos que acreditavam que havia duas versões deste evangelho, um para os cristãos comuns (o que nós conhecemos) e outro com conteúdo secreto, de entendimento específico daqueles que possuíam a gnose. Questiona-se, no entanto, a autenticidade do material usado por Morton em suas pesquisas, bem como o fato de somente ele ter tido acesso aos documentos que estudou. Isso tudo gerou questionamentos quanto a real existência do conteúdo por ele estudado, apesar de haverem algumas provas materiais através de fotografias que ele tirou da carta polêmica. Várias questões são levantadas em relação ao estudo feito por Smith, e muitos fatos levaram muitos a acreditar na possibilidade de que ele tenha falsificado o texto analisado, principalmente pelo fato de Smith ter sido um especialista sobre Clemente de Alexandria, famoso teólogo que viveu e escreveu por volta do ano 200 da Era Comum, o autor da carta polêmica que foi objeto dos estudos de Smith.

 

Abrindo a segunda parte da obra, Ehrman nos fala sobre o entendimento dos diversos grupos cristãos, e da obsessão com a qual estes grupos buscavam considerar-se os portadores da verdade, fato que diferia de tudo o que se via no Império Romano, onde a diversidade de crenças era tolerada e respeitada, mesmo entre as seitas que acreditavam em coisas distintas. Somente com o surgimento do Cristianismo é que surge o conceito de que era necessário acreditar na coisa certa para ser salvo, e que todos os que não acreditassem naquilo estariam condenados. E justamente por isso, a diversidade de seitas e de entendimentos a respeito dos ensinamentos de Jesus fazia com que a intolerância fosse, em alguns casos, violenta.

 

No quinto capítulo, são analisados dois grupos com entendimentos diametralmente opostos, do ponto de vista da origem Judaica da fé cristã: os Ebionitas e os Marcionitas. O primeiro grupo mantinha a crença na tradição judaica, enquanto o segundo abominava tudo que advinha dos judeus. Ehrman mostra Paulo como grande disseminador da tese pagã de que, para ser cristão, não era necessário adotar a religião judaica. É mostrada como era a crença de cada um dos dois grupos. Particularmente em relação aos Ebionitas, a falta de documentos produzidos por estes dificulta o entendimento de suas crenças, mas uma análise deste grupo é possível através do estudo do que foi escrito pelos oponentes destes (sempre avaliando estas fontes com bastante critério). Sabe-se, através de consenso em relação a estas fontes, que tratava-se de um grupo de judeus seguidores de Jesus, que respeitavam a lei e as tradições judaicas, que não acreditavam na preexistência de Cristo e muito menos na concepção virginal de Maria. Acreditavam que Jesus teria sido adotado por Deus, mas era um ser humano real, de carne e osso como todos nós, que foi concebido da união sexual entre seus pais. Adotavam o Evangelho mais judaizado, o de Mateus (com diferenças em relação ao Evangelho de Mateus que temos a disposição). Já os Marcionitas, por considerarem Paulo como o apóstolo maior de Jesus, tinham suas crenças extremamente atrativas à grupos pagãos. Este grupo rejeitava tudo de origem judaica, inclusive o Deus dos judeus, que estes consideravam uma deidade inferior ao Deus de Jesus. Acreditavam que o Deus dos judeus era um Deus rigorosamente justo, e que por isso, se encolerizava e punia as transgressões às suas leis, e o Deus de Jesus veio para salvar as pessoas do vingativo Deus dos judeus (o que os fazia acreditar na existência de dois Deuses). Acreditavam que Jesus nunca teve um corpo material, ou seja, ele apenas parecia ser humano. Marcião, o líder deste movimento, foi a primeira liderança entre as diversas seitas do Cristianismo a se preocupar em formular um cânon de escrituras sagradas, e muito provavelmente foi devido a este fato que os proto-ortodoxos passaram a sentir a necessidade de fazer o mesmo. E aqui, estamos falando de apenas duas visões, duas interpretações da vida e ensinamentos de Jesus, completamente distintas nos seus entendimentos, ambas reivindicando para si o título de verdadeiros seguidores de Jesus, sendo que é sabido que haviam diversos outros grupos, e que mesmo entre estes dois grupos definidos, havia diferenças menores de entendimento, o que mostra o quão complexo era o contexto Cristão dos primeiros séculos. O que teria acontecido com o Cristianismo atual se, no passado, um desses dois grupos tivesse prevalecido frente aos proto-ortodoxos? Ehrman faz uma breve análise a respeito deste questionamento neste ponto da obra.

 

O capitulo 6 aborda especificamente um grupo de cristão: os Gnósticos. Como abordado anteriormente no livro, muitos documentos referentes à essa variante do Cristianismo vieram a público com o descobrimento da biblioteca de Nag Hammadi, com diversos evangelhos desconhecidos até então, onde se podia verificar ensinamentos secretos e "mais verdadeiros", Evangelhos supostamente escritos pelos discípulos Filipe, João (filho de Zebedeu), por Tiago (irmão de Jesus) e por seu irmão gêmeo Tomé, dentre outros, todas as falsificações reconhecidas, mas que foram levados a sério por muitas comunidades e por muitas gerações. Mostra-se as características da crença Gnóstica, de que o mundo é um lugar ruim, e que a busca destes é a fuga deste mundo ruim, através do conhecimento secreto. Há, nos escritos de Nag Hammadi, descrições detalhadas dos Gnósticos sobre a criação do mundo e como viemos a habitá-lo e como se escapar dele, e que só aqueles que detém este conhecimento secreto, só uma pequena elite que possua uma fagulha divina dentro de si, faísca essa que é reacendida por meio da gnose, é que seria, salvos, segundo eles. A vastidão dos textos descobertos em Nag Hammadi é tão grande que alguns pesquisadores cogitam se a parte referente aos Cristãos Gnósticos (muitos dos textos lá descobertos não são sequer de seitas cristãs) pode ser representativa do grupo inteiro de Gnósticos ou se havia variantes de interpretação dentro deste grupo maior, fato que é aceito pela maioria dos estudiosos. Além dos textos descobertos em Nag Hammadi, outras descobertas compunham o rol de informações sobre esta seita, entre documentos escritos pelos combatentes contra tal seita nos primeiros séculos da Era Comum, bem como documentos descobertos nos séc. XVIII e XIX, que não foram levados em consideração pela comunidade acadêmica da época por não representarem a fé vigente. Cita-se também neste capítulo alguns exemplos de textos gnósticos, como "O Evangelho da Verdade", "A Carta de Ptolomeu a Flora" e "O Tratado sobre a Ressureição".

 

O capítulo seguinte, seguindo uma linha didática de abordagem sobre o assunto, refere-se à última parte das divisões-macro do Cristianismo, ainda não descrita à fundo até este ponto da obra: os proto-ortodoxos, a parcela dos Cristianismos que no fim sagrou-se a "vencedora", e cujos ensinamentos foram repassados adiante através dos séculos até nos alcançar nos dias atuais. Ehrman discorre sobre os mártires proto-ortodoxos, dentre eles Inácio, Bispo de Antioquia, preso e martirizado pelas feras do Colisseum Romano, por conta de suas atividades cristãs. É frisada uma das características marcantes deste grupo, que era o desejo de morrer pela fé, característica esta que separava, segundo os proto-ortodoxosos, os verdadeiros fiéis dos falsos "hereges". Cita-se também outros martirológios, todos cercados de acréscimos lendários. Inácio também é muito lembrado pela sua visão de organização da igreja, preocupação esta crescente na igreja primitiva, onde a desorganização e a falta de lideranças foi bastante prejudicial. Cita-se cartas falsamente atribuídas ao apóstolo Paulo, onde este escreve às suas comunidades sobre a necessidade de organização (o que o mesmo Paulo não havia feito em epístolas reconhecidamente escritas por ele - daí a conclusão de que são falsificações). Inácio, no seu caminho para o martírio em Roma, também escreve a diversas comunidades, sempre frisando a necessidade de respeito às autoridades eclesiásticas e aos livros da Antiga Aliança, pois os proto-ortodoxos sabiam na necessidade de busca de legitimidade em tradições antigas (naqueles tempos, o Cristianismo era uma religião considerada nova, e a vinculação aos textos tradicionais judeus ajudou a dar legitimidade à igreja, perante outras crenças). Além disso, Inácio buscava mostrar aos cristãos que Deus falava aos cristãos por outras formas, além do Velho Testamento e dos textos que mais tarde vieram a compor a Nova Aliança. De fato, Inácio considerava a si próprio como recipiente direto das revelações divinas, e durante muito tempo a revelação direta fez sucesso entre os cristãos proto-ortodoxos. Finalmente, é verificado o desenvolvimento de Inácio e outros expoentes sobre a teologia proto-ortodoxa, com a adoção de crenças na Trindade e a dualidade da figura de Cristo (totalmente humano e totalmente divino). Interessante observar que conceitos tidos como válidos pelos proto-ortodoxos eram considerados heréticos pelo mesmo grupo após poucas décadas, e tão interessante quanto é a adequação, por parte da teologia proto-ortodoxa, de suas crenças, como forma de abranger as crenças de outras seitas, de maneira a explicar suas posições teológicas e buscar se considerada como a fé verdadeira.

 

Na terceira e última parte do livro, explora-se o tema "Vencedores e Perdedores". Nesta parte, Ehrman discorre sobre as lutas entre os grupos distintos, suas ações e estratégias em busca da ortodoxia da fé, mostrando que desde sempre houve disputas de entendimento das escrituras, até mesmo na época em que Jesus era vivo (como por exemplo, a disputa tradicionalmente conhecida entre Jesus e os Fariseus), passando por Paulo, com suas cartas dirigidas às comunidades com o intuito de resolver problemas originados nas comunidades fundadas por este, problemas estes gerados por "falsos professores" que estavam deturpando o ensino dado por ele. Posteriormente, são estudados os conflitos entre os grupos, que perduraram entre os séculos II e III, sempre com cada parte buscando para si o título de fé ortodoxa. Ao término das disputas, a parte vencedora acabou escolhendo quais registros dos embates deveriam ser mantidos e como contariam a história do conflito, tendo as "vozes" dos perdedores sido silenciadas por muitos séculos até voltarem a ser "ouvidas" novamente com alguma clareza recentemente.

 

O oitavo capítulo mostra que, a partir do século IV, os termos heresia e ortodoxia não eram mais problemas, visto que a crença Cristã foi definida com o Credo Niceno. Heresia, após a vitória da proto-ordodoxia, era considerado por estes tudo o que estivesse em desvio com a crença estabelecida, e para os ortodoxos, qualquer doutrina herética deveria ter surgido após a doutrina ortodoxa inicial tendo, aqueles que produziram as novas crenças, tido em mãos a crença verdadeira, a qual deturparam, ou seja, a partir do momento em que o credo Católico foi definido, este foi considerado como "A" forma original de Cristianismo. Esta visão clássica de ortodoxia e heresia perdurou por muitos anos, e cita-se o trabalho de Eusébio de Cesaréia, que em sua obra "História da Igreja", escrita em 10 volumes, narra o curso do Cristianismo sob este prisma. Segundo Eusébio, as visões heréticas à ortodoxia se iniciaram com Simão Mago, que se considerava "o Poder de Deus". Tal visão clássica sobre ortodoxia e heresia, no entanto, começou a ser combatida a partir da era moderna. No livro, são explorados três enfoques sobre o combate à esta visão clássica: Jesus e seus discípulos ensinaram uma ortodoxia que foi transmitida para as igrejas dos séculos II e III? O livro dos Atos fornece um relato confiável dos conflitos internos da igreja cristã mais antiga? Eusébio dá um resumo imparcial das disputas que fervilhavam nas comunidades cristãs pós-apostólicas? A primeira questão envolve os ensinamentos de Jesus e seus apóstolos e a confiabilidade dos documentos do Novo Testamento que transmitiram estes ensinos. Como vimos na obra "O que Jesus disse, o que Jesus não disse", do mesmo autor, há milhares de problemas com os textos dos diversos manuscritos que os historiadores tem acesso, e como foi dito por um destes historiadores, "há mais diferenças entre os manuscritos do que palavras no Novo Testamento". Nesta obra, Ehrman contempla os estudos feitos sobre estas inconsistências pelo historiador alemão Hermman Reimarus, na época da do Iluminismo, onde ele mostra que muitas das qualidades atribuídas a Jesus não eram ensinadas ou assumidas por Ele, mas sim que foram atribuídas por aqueles que vieram depois, durante a criação da religião Cristã (a qual Jesus também não fundou e, segundo documentos históricos, não pediu que fosse fundada). Fala-se também do trabalho de outro estudioso alemão, F.C Baur, a respeito das disputas entre o Cristianismo Judaico e o Cristianismo Gentio, onde o Livro do Apocalipse, por exemplo, mostra-se completamente judaico (tese da síntese de Baur), enquanto as cartas de Paulo aos Gálatas e aos Romanos são completamente anti-judáicos (tese da antítese), enquanto obras como O Livro de Atos são uma força mediadora, o que leva ao entendimento de que o Livro de Atos não pode ser considerado uma visão histórica dos fatos os quais ele narra, sendo dirigido por uma ordenação teológica que afeta a exatidão histórica. E na terceira questão, mostra-se o estudo de Walter Bauer sobre os escritos de Eusébio de Cesaréia e seu relato sobre ortodoxia e heresia na história da igreja.
 

 

 

O próximo capítulo mostra que as disputas doutrinárias ocorriam mais fortemente no campo das palavras (apesar de ter havido batalhas armadas entre grupos). Há uma vasta coleção de manuscritos contendo os ataques verbais dos proto-ortodoxos às outras visões de fé e vice-versa. Mostra-se alguns exemplos de ataques dos Ebionitas (judeus cristãos) contra os ensinos de Paulo de Tarso, bem como ataques gnósticos à proto-ortodoxia, mostrando que a crença proto-ortodoxa não era errada em si, mas que era ridiculamente inadequada e superficial, e que os gnósticos interpretavam os credos, as escrituras e os sacramentos dos proto-ortodoxos de maneira muito mais espiritual e iluminada. Em contrapartida, são mostrados os ataques da proto-ortodoxia às outras visões, utilizando de meios polêmicos para extirpar os gnósticos das suas igrejas, destruir as escrituras especiais e aniquilar seus seguidores, estratégia tão bem executada que até recentemente não se fazia ideia do tanto que os gnósticos foram significativos nos primeiros séculos do Cristianismo. Ehrman demonstra como os proto-ortodoxos defendiam a unidade (por exemplo, a crença em um só Deus, Deus e Jesus como sendo um só) e imputavam aos outros a diversidade. Falavam de bom senso e imputavam aos outros a falta de senso. Falavam em verdade em suas crenças e erro na crença dos demais grupos. Citavam a sucessão apostólica contra a crença em falsos profetas. Inventam falsos costumes de ordem moral dos outros grupos, em casos escandalosos de orgias sexuais como atos litúrgicos destas outras seitas, e coisas ainda mais escandalosas.

 

No décimo capítulo, são verificadas as falsificações produzidas pelos proto-ortodoxos, para desmoralizar as crenças por eles consideradas heréticas, como por exemplo, O Evangelho de Infância de Tomé, onde se contam fatos mirabolantes sobre os poderes de Jesus quando criança, documento esse atacado pelos proto-ortodoxos como sendo falsificação gnóstica, mas que numa análise mais aprofundada, é mostrado que não há nenhum traço gnóstico neste, ou seja, que o texto não parece desenvolver nenhum traço teológico específico, mas foi usado pelos proto-ortodoxos no combate a outras crenças. Além disso, mostra-se falsificações de relatos com o intuito puramente teológico, para dar embasamento à crença proto-ortodoxa, como se fossem escritos antigos, mas que de fato foram produzidos nos séculos II e III, mostrando a preocupação existente neste grupo em relação à busca de legitimidade de suas crenças. Cita-se o exemplo de várias falsificações deste tipo, uma mais elaboradas, outras mais sutis, e também a falsificação dos textos que vieram posteriormente a compor o cânon sagrado, com inserções de trechos nos textos sagrados para combater outras teologias.

 

O penúltimo capítulo enfoca a criação da escritura proto-ortodoxa, com a adoção do cânon de livros sagrados no final do século IV, após a oficialização do Cristianismo Católico como religião oficial do Império Romano. Ehrman estuda o processo de formação do cânon da Nova Aliança, mostrando as interpretações de Jesus às Escrituras Judaicas e a tradição destas interpretações sendo convertidas em Escrituras por aqueles que vieram depois Dele. Verifica-se que além de seguir em grande parte o que estava escrito na Antiga Aliança, os ensinamentos de Jesus muitas das vezes suplantavam esta. Tais ensinamentos, já no final do século I já haviam adquirido, para os Cristãos, o status de textos sagrados, dando a estes textos autoridade. No decorrer do capítulo, verifica-se os métodos utilizados para definir quais livros da vasta coleção de textos que haviam na época deveriam entrar no cânon sagrado, quase no final do século IV, apesar do surgimento da necessidade de estabelecimento deste já ser verificada entre os proto-ortodoxos a partir do século II.Cita-se a descoberta de um cânon, no século XVIII - o Cânone Muratoriano, um texto pessimamente copiado, com textos de vários padres da igreja do século IV e V, mas que já citava grande parte dos livros que acabaram compondo o cânon definitivo. Cita também os quatro critérios usados para verificar se um determinado texto deveria fazer parte da Nova Aliança (Antiguidade, Apostolicidade, Catolicidade e Ortodoxia do texto), e o trabalho de Eusébio, na sua obra de 10 volumes sobre a história da igreja, onde este classifica os textos em quatro categorias (reconhecidos, questionados, espúrios e heréticos), bem como as discussões da ortodoxia que culminaram na escolha dos 27 livros que foram escolhidos.

 

Fechando a obra, Ehrman avalia mais a fundo as possibilidades alternativas de vitoriosos na ortodoxia e as consequências que estas vitórias alternativas poderiam trazer para a humanidade dos dias atuais. Explica também que, como parte da estratégia de vitória, a proto-ortodoxia adotou, muitas das vezes, a prática de absorver o conteúdo do que as outras visões e interpretações tinham, incorporando tais visões à sua, levando a conclusão de que a vitória da proto-ortodoxia não foi completa, justamente por conta desta absorção de tradições não-ortodoxas para explicar muitas das crenças defendidas pelos proto-ortodoxos. E apesar destes fatos, verifica-se o quão intolerantes eram os proto-ortodoxos em relação às outras visões e interpretações existentes, embora não seja possível afirmar que estas outras visões fossem mais tolerantes em relação às outras, dado que a maioria dos textos destes grupos foram perdidos. Verifica-se também que, graças à essas descobertas e estudos sobre os Cristianismos primitivos, a visão atual das crenças é bem mais tolerável e gera maior fascínio por estas visões, o que gera sentimento de perda em relação ao esquecimento de tradições bem intencionadas que foram abandonadas e destruídas, mas ao mesmo tempo, vem a alegria das novas descobertas oriundas dos estudos e pesquisas, para nos mostrar cada vez mais que a crença que chegou até nós, vitoriosa dos conflitos do passado, também carrega consigo os traços daquelas que foram derrotadas, suprimidas e perdidas.

 

Diante de tudo o que foi visto na obra, é possível verificar o quão distante da ortodoxia está a crença que hoje é divulgada pela Igreja Católica Romana. A diversidade de crenças existente desde os primeiros momentos do Cristianismo, as diversas interpretações que haviam nos primeiros séculos, os intensos combates entre as partes na busca pela hegemonia de crença, as falsificações perpetradas por todos os lados e os meios utilizados para garantir a manutenção de determinados textos em detrimento de outros, que fizeram com que tradições inteiras fossem perdidas, tudo isso mostra que a visão de ortodoxia defendia pela igreja, desde que a proto-ortodoxia venceu as disputas teológicas no início do século IV passa longe de ser um consenso. Ao mesmo tempo, é fácil perceber que, apesar de tudo o que aconteceu naqueles tempos, é difícil imaginar que a vertente vencedora não tenha sido a mais apropriada, diante de interpretações muitas das vezes absurdas que eram dadas ao ensino perfeito deixado por Jesus para a humanidade. E o livro consegue mostrar todos estes pontos com excelente didática, numa leitura agradável e muito informativa.
 
 
Resenha feita por Bruno Oliveira

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

DE JESUS A CRISTO, A JESUS DE NOVO
(ou, POR QUE SER ESPÍRITA É TAMBÉM SEGUIR A JESUS)

Por Douglas

“Então Jesus e os seus discípulos partiram para as aldeias de Cesareia de Filipe; e, no caminho, perguntou-lhes: quem dizem os homens que sou eu? E responderam: João Batista, outros: Elias; mas outros: algum dos profetas. Então, lhes perguntou: mas vós, quem dizeis que eu sou? Respondendo, Pedro lhe disse: tu és o Cristo. Advertiu-os Jesus de que a ninguém dissessem tal coisa a seu respeito.”
Marcos 8:27-30; Mateus 16:13-20; Lucas 9:18-21 –                           Almeida Revista e Atualizada.

1


Findo um ano do Curso de “Cristianismo e Espiritismo” na Comunhão Espírita de Brasília, provavelmente a primeira coisa que um aluno ou aluna raciocinaria ao ler essas palavras seria: “será que Jesus disse isso mesmo”? Bem, a citação acima faz parte dos três Evangelhos Sinóticos e corresponde a uma tradição muito antiga... Ademais, sua leitura em um contexto que não o do Cristianismo pode ensejar considerações sóbrias: por que advertir a não espalhar isso? Qual a percepção de Jesus de Nazaré quanto ao que ele fazia e seu propósito de vida?

São indagações que historicamente podem gerar respostas das mais variadas, todas elas tão somente hipotéticas. Certeza, certeza mesmo, o pesquisador sério não atribuirá a nenhuma delas, ainda que se incline sinceramente para alguma. Mas estamos falando de um pesquisador acadêmico da área das assim chamadas ciências humanas, que possui limitações quanto aos seus instrumentos de pesquisa, limitações essas que foram surgindo com o justo interesse de se colocar balizas de segurança quanto à pesquisa séria que produz resultados seguros e passíveis de verificação e modificação, quando necessário.

Mas e o pesquisador espírita? Como deve proceder quando surgem estes desafios? Depois de um ano de curso, a esperança dos professores do CriEs – Cristianismo e Espiritismo – é de que a máxima do professor Allan Kardec em a Gênese capítulo 1 item 55 valha mais do que nunca: seguiremos junto com as ciências e os Espíritos, mas se esses disserem algo sobre um fenômeno estudado por estas ciências que elas entendam de  maneira diferente, ficaremos com as ciências, até prova em contrário por parte delas mesmas.

Alguém pode nos perguntar: isso vale para as ciências humanas, para a História, a Antropologia e a Arqueologia, por exemplo? Sim. O sim é simples e prescinde de acréscimos. Vamos agora tentar raciocinar em cima disso. Por que o professor Kardec insiste nesse ponto deste modo? Por que as ciências humanas, falhas, limitadas, em constante mutação diriam a palavra final, se há Espíritos a quem reputamos muito saber e que se encontram na dimensão privilegiada de observação, podendo mesmo nos adiantar o que será descoberto em segurança?

Primeira razão: porque aos Espíritos que já avançaram na caminhada da evolução das vidas, não é dado o direito de tirar o esforço continuado e o aprendizado pessoal e intransferível que cabe a todos nós e a eles, na mesma proporção. Cada um deve se auto-conhecer, se entender, se amar e se melhorar por si só. Podemos ser auxiliados – e efetivamente o somos mais do que imaginamos! –, podemos ser encorajados, motivados reanimados, mas nunca, jamais, poderão fazer por nós o que é nossa obrigação fazer por nós mesmos, assim como isso não foi feito por eles. Poderão eles mesmos reencarnarem e laborarem lado a lado conosco, nos ensinando e, continuando seu perpétuo aprendizado, nos ajudando a nos adiantar, mas não podem nos facilitar o caminho evolutivo que não seja pelo exemplo vivo, andando como gênios da humanidade ao nosso lado, e também pelo consolo sempre certo de onde estão, na pátria espiritual.

Segundo: porque as ciências não são revelações prontas, acabadas, na mesma proporção que o ser humano não é algo pronto, acabado. Crescendo e melhorando o ser humano em saber e nos afetos, mais ele poderá e, portanto, maior e melhor nossas ciências serão. Parafraseando com muito carinho uma frase religiosa cristã pela qual temos entranhado respeito: ‘eis o mistério da fé raciocinada e progressiva - toda vez que melhorarmos através da razão e dos afetos, mais e mais saberemos e poderemos no caminho das ciências, máxime a ciência espírita’. Até porque, “a ciência lhe foi dada para seu adiantamento em todas as coisas...” – Livro dos Espíritos, resposta parcial à pergunta 19.

Terceiro porque entendemos mais do que nunca com o professor Allan Kardec que uma vez livre da vestimenta física, os Espíritos não entram na posse do conhecimento de todos os mistérios. E em sendo assim, quando interagimos com Eles, devemos SEMPRE lembrar que estamos lidando com seres humanos como nós que tem limitações a serem vencidas, assim como nós mesmos. E que eles tem a permissão de seus Maiores para interagir conosco para que JUNTOS aprendamos, pesquisemos, estudemos, como eles o fazem com aqueles que se encontram muito à frente deles.

E, uma vez que o modo de intercâmbio de informações se dá por uma faculdade comum a eles e a nós, desencarnados e encarnados – a medianimidade –, faculdade essa que se encontra em processo de aperfeiçoamento como todos nós estamos, é natural que mais do que nunca saibamos distinguir quem é quem nesse diálogo do lado de lá, com o máximo de cuidado. O professor Allan Kardec declara que esse conhecimento “... É, de certo modo, a chave da ciência espírita, pois só ele pode explicar as anomalias que as comunicações apresentam, esclarecendo-nos sobre as desigualdades intelectuais e morais dos Espíritos” – O livro dos Espíritos, comentário parcial de Kardec à pergunta 100.

Essa prudência toda descrita nos três itens acima não foi tão bem vista assim por todos os contemporâneos espiritistas do professor que codifica a Doutrina em seu tempo. Alguns o viram como um tanto quanto centralizador, outros lamentavelmente como alguém que se recusava a aceitar as revelações impactantes que surgiam, com uma evasão impensável em um homem de saber como ele.

Entendemos que isso é um equívoco e que, ao contrário, todas as vezes que os espíritas seguiam as diretrizes exaradas pelo querido mestre lyonês, todas elas aprovadas pelos Espíritos que se notabilizaram em anos de contato com o grupo ao qual ele fazia parte e que foram testadas inúmeras vezes nestes mais de 150 anos de Doutrina Espírita Codificada, os resultados práticos foram e continuam sendo agradavelmente surpreendentes.

Um dos tópicos mais polêmicos e que ensejou duros desafios para o movimento espírita francês e brasileiro foi o referente a Jesus de Nazaré. Se hoje o rabi da Galiléia fizesse sua pergunta “quem dizem os homens que sou eu?” para os que se dizem espíritas, a resposta dentro do movimento seria claramente multifacetada:

 - Deus, para os espíritas que não estudam nunca as obras sérias da Doutrina;

 - Um agênere que nunca encarnou em corpos físicos, para os fiéis roustainistas;

 - Um médium amorável e vegetariano do Cristo Cósmico Planetário, para os ramatisistas;

 - Um espírito perfeito que encarna em um corpo híbrido de material genético alienígena e terrestre, responderiam os miramezistas;

 - Um emissário de “o Sistema”, espírito que caiu no equivocado universo físico como todos nós, mas que, após a crucificação, purificou-se de vez e retornou do seu erro para lá e, de lá, tenta nos guiar para que consigamos o mesmo, como querem nos fazer crer os ubaldistas;

E por aí vai. Depois de um ano de estudos em conjunto, vamos rever por fim algumas definições pontuais pertinentes a este tópico que se encontram na codificação do hexateuco kardequiano, as seis obras principais apresentadas pelo estimado professor quando encarnado no século XIX. Antes disso, alguém poderia dizer: mas não estaríamos então incorrendo em um outro “ismo”, nesse caso, o “kardecismo”? Por que os “Kardecistas” tem que estar certos e não Roustaing, Ramatis, Miramez, Ubaldi etc?

Antes de tudo, lembremos que Allan Kardec não tem que estar certo. O princípio que se aplica aos Espíritos desencarnados comunicantes é o mesmo a ser aplicado frente a qualquer encarnado, incluindo o estimado professor. Por isso, a fé que o motivava e que nos motiva é a fé raciocinada e progressista. Ademais, a revelação espírita, a terceira revelação, é uma revelação DOS ESPÍRITOS e não de um homem ou de um Espírito só, encarnado ou desencarnado.

Todavia, o que todos os defensores das linhas de pensamento espiritualista acima mencionados têm em comum com o espírita que se pauta na codificação é a de que, afora as diferenças e discordâncias, muito mais se tem a concordar uns com os outros EM Kardec do que sem Kardec. Expliquemo-nos: ainda que com diferenças de pensamento, todos ainda optam por ter Kardec como a referência didática comum e segura para os primeiros passos no desenvolvimento da fé raciocinada. Por isso insistem em se denominar espíritas, termo cunhado pelo professor de Lyon.

2


O convite que fazemos então nesse momento é: voltemos às raízes do movimento e das manifestações dos Espíritos conforme os passos didáticos do codificador e, com base nisso, vamos comparar com o que a ciência tem trazido. E façamos isso agora no contexto da temática da pessoa de Jesus de Nazaré. O que em termos iniciais e pedagógicos os Espíritos nos revelaram sobre ele? Vejamos:

1)     O Livro dos Espíritos, pergunta 625: Jesus é apresentado como o mais perfeito guia e modelo da perfeição moral a ser aspirada na Terra. Igualmente, como o Espírito mais puro que por aqui apareceu encarnado.

2)    Em o Livro dos Médiuns, no capítulo XXXI, item IX, na observação de Kardec, poderá ser lido que o codificador se refere a Jesus de Nazaré como o “Espírito puro por excelência”.

3)    No Evangelho Segundo o Espiritismo, em sua famosa introdução, o professor se refere já no primeiro parágrafo aos cinco tópicos pertinentes ao tema “Jesus Cristo” pelos quais se podem tratar esse nome: a) os atos comuns de sua vida b) os milagres c) as predições d) as palavras que serviram para estabelecer os dogmas da Igreja e) o ensinamento moral. Em seguida, pontua que a parte moral –  também chamada de código divino – é a única inatacável, inclusive tendo-se em vista o posicionamento de ateus e materialistas que, discordando de um ou vários aspectos dela, não podem deixar de admirá-la.

4)    Ainda no Evangelho Segundo o Espiritismo, no capítulo 1 item 4, Allan Kardec se refere à natureza excepcional de seu Espírito (i.e. de Jesus) e de sua missão divina, especificando que além de um código moral Jesus ensinou aos seres humanos que a verdadeira vida está no reino dos céus e lhes aponta o caminho para chegar lá.

5)    Em O Céu e o Inferno, no capítulo 10 item 18, Jesus é chamado de “o messias divino enviado aos homens para ensinar-lhes a verdade e mostrar-lhes o caminho da salvação”. Lembrando a todos que a palavra messias vem do hebraico mashíach, ungido. E lembrando igualmente que no antigo Israel, quando alguém possuía um comissionamento sagrado, essa pessoa era ungida com um óleo perfumado especial, fosse para ser rei, fosse para ser sacerdote, fosse para ser um profeta.  

6)    Em A Gênese, a exposição final de Kardec sobre temas espíritas trazida à luz antes de sua morte, Jesus de Nazaré é descrito do seguinte modo no capítulo xv item 2:
“Sem nada prejulgar sobre a natureza do Cristo, cujo exame não entra no quadro desta obra, e não o considerando, por hipótese, senão como um Espírito superior, não podemos deixar de reconhecê-lo como sendo um dos Espíritos de ordem mais elevada e, por suas virtudes, colocado muitíssimo acima da Humanidade terrestre. Pelos imensos resultados que produziu, a sua encarnação neste mundo forçosamente há de ter sido uma dessas missões que a Divindade somente confia a seus mensageiros diretos, para cumprimento de seus desígnios.  Mesmo sem supor que ele fosse o próprio Deus, mas um enviado de Deus para transmitir sua palavra aos homens, seria mais do que um profeta, porquanto seria um Messias divino.

“Como homem, tinha a organização dos seres carnais, mas como Espírito puro, desprendido da matéria, havia de viver mais da vida espiritual, do que da vida corpórea, de cujas fraquezas não era passível. A superioridade de Jesus com relação aos homens não resultava das qualidades particulares do seu corpo, mas das do seu Espírito, que dominava a matéria de modo absoluto, e da do seu perispírito, haurido da parte mais quintessenciada dos fluidos terrestres. (Cap. XIV, item 9.) Sua alma não devia achar-se presa ao corpo senão pelos laços estritamente indispensáveis. Constantemente desprendida, ela decerto lhe dava dupla vista, não só permanente, como de excepcional penetração e muito superior à que comumente possuem os homens comuns. O mesmo havia de dar-se nele com relação a todos os fenômenos que dependem dos fluidos perispiríticos ou psíquicos. A qualidade desses fluidos lhe conferia imensa força magnética, secundada pelo desejo incessante de fazer o bem.

“Agiria como médium nas curas que operava? Poder-se-á considerá-lo poderoso médium curador? Não, visto que o médium é um intermediário, um instrumento de que se servem os Espíritos desencarnados. Ora, o Cristo não precisava de assistência, pois que era Ele quem assistia os outros. Agia por si mesmo, em virtude do seu poder pessoal, como, em certos casos, o podem fazer os encarnados, na medida de suas forças. Que Espírito, aliás, ousaria insuflar-lhe seus próprios pensamentos e encarregá-lo de o transmitir? Se porventura ele recebia algum influxo estranho, esse só de Deus lhe poderia vir. Segundo definição dada por um Espírito, ele era médium de Deus”.  

Agora paremos para considerar esses pontos frente aos argumentos espiritualistas apresentados antes. Salvo o excerto preciosíssimo de A Gênese, que contradiz frontalmente as premissas roustainistas, pode-se francamente questionar as ilações morais do ensino de Jesus de Nazaré conforme expostas por Allan Kardec? Certamente que não. E com todas elas são concordes todos os grupos que apresentaram, junto ao movimento espírita, seus conceitos diferenciados da codificação quanto a tudo o mais que se referia à vida do rabi da Galiléia.

Ora, se a explanação do professor de Lyon é boa para este ponto, não deveria ao menos ser vista com olhos respeitosos nos outros? Os que se diferenciaram o fizeram sempre pisando inicialmente no terreno seguro das considerações daquele a quem Camille Flammarion chamou de “a prudência personificada”. Mas existe algo a mais nesse comenos.

Quando confrontamos o Jesus Histórico com o Jesus de Nazaré enxergado por Kardec e descrito pelos Espíritos que dialogaram com ele, a genialidade Kardequiana se torna mais patente ainda! De tudo que se escreveu em mais de cem anos de pesquisa históricas sobre o mais famoso judeu da história da humanidade, a parte que salta aos olhos permanecendo incólume é sua moral superior ao tempo em que viveu. Moral tão elevada que fez e faz com que líderes de praticamente todas as grandes religiões, inclusive o Judaísmo, vejam nesse ser humano extraordinário que por aqui passou um irmão amigo dos ideais mais elevados.

Efetivamente, ao compulsar as obras de pesquisadores notadamente agnósticos ou mesmo ateus, tais como John Dominic Crossan, Geza Vermes, Bart Ehrman, Karen Armstrong, Marcus Borg, David Flusser e dezenas de outros, considerados gigantes dessas pesquisas pelas décadas e mais décadas de estudos que efetivaram sobre esse tópico, permanece a intuição genial de Allan Kardec, nascida de sua experiência nos anos de estudos no Instituto de seu mestre Henri Pestalozzi, confirmada pelos Espíritos reveladores da assim chamada terceira revelação e que reverbera notavelmente no imo de nossos corações.

E mais. Diferentemente da complexa estrutura teológica dos cristianismos, sejam eles católico-protestantes, gnósticos ou mesmo judaicizantes, cuja gênese constitutiva é rastreável facilmente no processo histórico de cerca de dois mil anos, com o emaranhado de interesses sinceros ou não que estiveram por trás de seu surgimento, o Espiritismo em sua apresentação de Jesus como Espírito que age nesse planeta sob ordem divina destoa de todos eles.

De fato, o Espiritismo não é uma reedição do catolicismo-protestantismo, e nem do judaísmo cristão dos primeiros séculos da Era Comum, bem como não o é de nenhuma das formas de gnosticismos redescobertos no século passado, tão fascinantes aos olhos de muitos. Nem mesmo é uma colcha de retalhos de todos eles. A Doutrina dos Espíritos tem consistência própria em seus postulados, que se na essência se liga à Filosofia Perene de todos os séculos, como o enxergou o filósofo espírita Léon Denis, é ao mesmo tempo um corpo de informações sólido que se exprime em termos particulares, novos, explicando antigos e novos fatos que se repetem por todas as eras dentro de uma genealogia do saber cultural que começa no Judaísmo, passa pelos ensinos de Jesus e a comunidade Jesuana que com ele conviveu e se corporifica como uma síntese do saber no século XIX.

E assim o faz porque se antes a humanidade dissociou a ciência, a filosofia e a religião, agora ela está apta para reintegrá-los, respeitando suas áreas de produção de conhecimento como áreas integráveis e coordenáveis, mas não mais fundindo elas como se fossem uma coisa só.

Por fim, suas premissas básicas simplesmente estão fora da alçada da pesquisa acadêmica tradicional enquanto esta não reconhecer o objeto de estudo dessa doutrina: o mundo espiritual e suas manifestações. Igualmente enquanto não reconhecer que este objeto de estudo demanda instrumental analítico de pesquisas e testes próprios, como qualquer disciplina nova do saber o requer. Também enquanto não reconhecer as conseqüências racionais e os significados filosóficos em todos os campos da vida humana dessa disciplina de estudo e pesquisa. E, mais importante ainda, enquanto não lhe reconhecer seus justos valores, de cunho espiritual, capazes de nortear a humanidade a novos páramos. Sendo assim, estão essas premissas fora de sua investigação, não podendo ser refutadas ou endossadas.

E quais são essas premissas básicas? É o professor Kardec quem as expõe de modo didático, conforme pode ser lido nos 29 postulados espíritas básicos descritos pelo mestre de Lyon na “Profissão de Fé Espírita Raciocinada”, encontrada na parte primeira de suas “Obras Póstumas”. Agora, o mais fascinante de tudo é: dificilmente, assim o entendemos, os roustainistas, ramatisistas ou ubaldistas se poriam contra eles. Se o leitor ou a leitora tiver alguma dúvida, cheque-os e veja por si mesmo(a).

Ficam assim essas reflexões conclusivas de um curso em constante aperfeiçoamento, mas cujo corpo de professores, depois da desconstrução de muitas estruturas teológicas herdadas dessa e de outras vidas, emergiram do torvelinho com a reafirmação de sua fé espírita raciocinada como inteiramente compatível com a mensagem da boa nova do Reino do Pai, conforme apregoada pelo rabi de Nazaré.

3



Como ele encarnado, podemos dizer: “Amai a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo” (Mateus 22:34-40; Marcos 12:28-31; Lucas 10:25-28). Como ele, agora na pátria espiritual, podemos dizer: “espíritas, amai-vos, eis o primeiro mandamento. Instruí-vos, eis o segundo” (Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo VI item 5, quarto parágrafo). Mas perdura a pergunta de Jesus ao coração de cada um de vocês, para que respondam e ele em sua sinceridade: “mas vós, quem dizeis que eu sou?”

NOTAS:




"Meu reino não é deste mundo" é o tema do capítulo 2 de O Evangelho Segundo o Espiritismo. Na sexta-feira dia 24/01/2014, Douglas discorreu sobre este tema à luz das pesquisas históricas e da Doutrina Espírita em um fórum realizado na Comunhão Espírita de Brasília, com exposição e, em um segundo momento, perguntas e respostas. O confrade espírita e amigo Nazareno Feitosa, renomado palestrante do movimento, presenteou-nos com a gravação do fórum e disponibilização no You Tube. Compartilhamos o link com vocês aqui e aguardamos seus comentários e sugestões.
D.'.

http://www.youtube.com/watch?v=LW0L1HJP4ow&feature=em-upload_owner

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013




1
 

O que Jesus Disse? O eu Jesus não disse? Quem mudou a Bíblia e porque

Bart D. Ehrman – Título original: Misquotig Jesus: The Story Behind Who Changed de Bible and Why

Tradução: Marcos Marcionilo– Prestígio Editora, 2006


 

Bart Ehrman é PhD em Teologia pela Princeton University of North Caroline, especialista em Novo Testamento, igreja primitiva, ortodoxia e heresia, manuscritos antigos e na vida de Jesus. Quando jovem, motivado pela pratica do Cristianismo e estudo da Bíblia, ingressou no Moody Bible Institute de Chicago e, após três anos de estudo da Bíblia, decidiu se formar em Teologia, na faculdade evangélica Wheaton College, onde após aprofundar seus estudos em relação aos textos bíblicos, foi paulatinamente se dando conta da quantidade de alterações que havia em relação aos textos das bíblias disponíveis e o texto disponível em grego.

 

Aprofundou seu conhecimento em línguas, para poder compreender melhor manuscritos antigos, e quanto mais estudava estes, mas notava que, contrariamente ao que a tradição prega, as palavras constantes na Bíblia estavam longe de ser inspiradas por Deus. Tais estudos o conduziram a um caminho completamente diverso daquele que ele inicialmente tinha planejado, quando ingressou no Moody, para se tornar um divulgador da Bíblia como muitos de seus amigos fizeram. Sua dedicação aos estudos dos textos antigos e o vasto conhecimento adquirido durante anos de pesquisas lhe renderam a alcunha de “a maior autoridade em Bíblia do mundo”.
 

Nesta obra composta de sete capítulos, Ehrman mostra de maneira didática todos os porquês das milhares de mudanças que os pesquisadores dos textos bíblicos identificaram desde o início do século XVII, quando começaram a surgir pessoas dispostas a buscar uma aproximação aos textos originais que compõem a Nova Aliança.

 

 No primeiro capítulo ele mostra que, assim como o Judaísmo, o Cristianismo também era uma religião do livro, apesar das características dos povos daquele tempo, principalmente dos Cristãos, que se tratavam em sua quase totalidade de pessoas analfabetas, mas cuja fé, com o passar dos anos, trouxe para a nova religião pessoas cultas que participaram da elaboração e disseminação dos ensinamentos de Jesus.

 

É ainda mostrada a produção dos mais diversos tipos de textos (Evangelhos, Cartas, Epístolas, Apocalipses, etc) que, para serem difundidos, dependiam do ofício de copistas.

 

Depois, no segundo capítulo, Ehrman ilustra como a falta de preparo dos primeiros copistas contribuiu desde os primórdios com a modificação dos textos originais, devido à disseminação destes pelo mundo Cristão, seja por incapacidade, cansaço, necessidade de combate daqueles que se julgavam ortodoxos contra conceitos considerados heréticos, etc.

 

É exemplificada também a inserção, por parte de copistas, de trechos inteiros que não constavam dos textos originais como, por exemplo, a passagem da mulher flagrada em adultério, onde é mostrado que tal passagem tem estilo de escrita completamente distinto do restante do evangelho onde se encontra e que a mesma não consta de diversos manuscritos antigos. Outros exemplos também são abordados neste capítulo.

 

No terceiro capítulo é mostrado como se chegou aos textos que dispomos atualmente pela atividade dos copistas profissionais, à partir do século IV, da elaboração do cânon sagrado, da criação da Vulgata Latina (até então os textos existentes utilizavam principalmente o grego mas, após a oficialização do Cristianismo como religião do Império Romano, exigiu-se a tradução dos textos para o latim).

 

Ele mostra também como foi o resgate dos textos mais antigos em grego e, com o advento da imprensa, já no sec. XVI, o surgimento dos primeiros pesquisadores das escrituras, bem como o princípio da identificação das falhas nos textos.

 

O quarto capítulo enfatiza a busca dos estudiosos pelos textos mais antigos possíveis, como consequência da quantidade de erros que começaram a ser mapeados pelos mesmos. São mostrados os trabalhos de alguns pesquisadores antigos e suas conclusões a respeito das milhares de alterações identificadas por estes.

 

No quinto capítulo, Ehrman apresenta uma técnica desenvolvida desde o princípio do sec. XVI, aprimorada pelos estudiosos das escrituras, que visa a avaliar se uma determinada passagem trata-se de um original ou trata-se de consequência de erros ou inserções – a Critica Textual. Tal técnica auxilia sobremaneira na clarificação a respeito de passagens polêmicas que constam (ou constaram) nas escrituras. Jesus sentia ira? Sentiu medo com a perspectiva do que enfrentaria no calvário? Sentiu-se abandonado por Deus na Cruz? Estas questões são avaliadas pela ótica da Crítica Textual, para se concluir a respeito do que provavelmente constava nos textos originalmente escritos, que evidentemente não são os textos que constam nas nossas Bíblias atuais.

 

Nos dois últimos capítulos, são mostrados exemplos de mudanças intencionais promovidas pelos copistas nos textos da Nova Aliança, seja porque estavam motivados por fatores teológicos, diante da necessidade de combate às heresias dos diversos Cristianismos existentes nos primeiros séculos, até a definição do cânon sagrado no sec. IV, seja porque motivados por elementos sociais, como a exclusão de referências à importância da mulher no culto das igrejas e conflitos com judeus e com pagãos.

 

Ehrman conclui o livro fazendo uma análise do que motivou tantas mudanças nos textos produzidos, mostrando que em grande parte tais mudanças se devem pela capacidade interpretativa do ser humano e que, em grande parte, tais mudanças para aqueles que as promoveram visavam realmente melhorar o texto. Não havia, portanto, a preocupação com a manutenção do texto original e muito menos com as consequências que tais mudanças provocariam para as gerações futuras, ou seja, a preocupação que motivou as mudanças sempre foi de momento, para garantir a manutenção da ortodoxia teológica em relação aos textos.

 

Enfatiza-se que, por se tratar de uma obra dos homens, até mesmo os autores foram responsáveis por modificações nos ensinamentos de Jesus, exatamente por serem humanos com necessidades e sentimentos.

 

Conclui-se de tudo o que é exposto no livro que não há como acreditar que as palavras contidas na Bíblia sejam inspiradas por Deus. Não se chega nem perto disso. O que temos hoje na Bíblia é um livro escrito por homens, alterado por homens, que é interpretado por homens e que, nestas interpretações, tiram conclusões das mais variadas formas. Porém, historicamente, os fatos não permitem que se creia na infalibilidade do que está escrito na Bíblia e tais fatos são chancelados em diversos momentos da história, por diversos ícones da Cristandade.
 
 
RESENHA: Bruno Fabiano de Sá Oliveira
 
Notas: